Miguel Nicolelis e o tempo da ciência
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Miguel Nicolelis e o tempo da ciência

Esse é o primeiro de uma série de publicações que o prêmio PIEC deseja realizar, cujo tema será a prática científica e não necessariamente o prêmio. Esperamos que gostem. Boa leitura.

Miguel Nicolelis | Imagem: Bruno Santos / Folhapress. Reprodução: reportagem UOL.
Miguel Nicolelis | Imagem: Bruno Santos / Folhapress. Reprodução: reportagem UOL.

Miguel Angelo Laporta Nicolelis dispensa apresentações na comunidade acadêmica. Formado em medicina e Doutor em ciências, ambos pela Universidade de São Paulo (USP), Miguel se destacou mesmo foi no estudo neurocientífico. Foi o primeiro cientista a entender e publicar sobre o funcionamento dos circuitos cerebrais ao conseguir assistir à movimentação em massa de neurônios, defendeu que não era o neurônio, mas sim um grupo de células neuronais as responsáveis pelos comportamentos, movimentos, processamento, assimilação etc.


A internet está cheia de materiais e publicações de Miguel, mas nós queremos mesmo é destacar o trecho da entrevista de Miguel Nicolelis para o jornalista Reinaldo Azevedo e o advogado Walfrido Warde, no programa Reconversa. Disponível no YouTube.

Juliano Pinto, equipado com o exoesqueleto desenvolvido pela equipe do professor Miguel Nicolelis, durante a cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 2018.  (Divulgação)
Juliano Pinto, equipado com o exoesqueleto desenvolvido pela equipe do professor Miguel Nicolelis, durante a cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 2018. (Divulgação)

A certa altura da conversa, Miguel explica que não foi simples chegar do ponto em que só se sabia acompanhar um por vez, dos mais de 84 bilhões de neurônios, até chegar ao ponto de conseguir fazer pessoas paraplégicas voltarem a se mover com a ajuda de exoesqueletos capazes de ler, interpretar e transmitir sinais cerebrais, para os membros mecânicos fazerem as vezes dos membros afetados pela lesão na medula espinhal.


Nicolelis lembra que o processo levou mais de 35 anos para chegar ao estágio atual e que só foi possível porque os recebeu apoio desde os primeiros passos da pesquisa que consistia em ler cérebros de ratos de laboratórios, fazer a macaca Aurora mover um braço eletrônico através da interface cérebro-máquina, até chegar aos primeiros protótipos, como o apresentado na abertura da Copa do Mundo de futebol masculino, no Brasil em 2018.

Durante a excelente entrevista de 1 h e 40 m, o ilustre entrevistado demonstrou que a ciência tem seu próprio tempo para acontecer e que sem apoio e liberdade criativa, não há como fazer grandes descobertas. Disse Miguel:


“Eu tive o privilégio de pegar a última grande fase do modelo do business plan americano de ciência, onde o americano vivia numa bolha. Tá o mundo lá fora, pode acontecer o que acontecer e você tá lá, navegando rumo ao horizonte que você definiu, você é o chefe da padaria, você faz o pão que você quer e você decide quando você, né, solta o pão pro público.”
“Eu consegui viver 35 anos da minha vida sem pressões econômicas, pressões por produtividade. Nada. Ninguém chegava pra mim e dizia “amanhã você vai ter que publicar um paper””.

Provocado pelos entrevistadores sobre a fonte dos recursos utilizados, ele continua: “As universidades de ponta: Harvard, MIT, Duke... elas só existem porque elas são subsidiadas pelo governo americano através de projetos de pesquisa de grande porte”.


Deixamos abaixo a entrevista na íntegra, porque o Professor Miguel Nicolelis conseguiu, através de suas falas, sintetizar a crença que o Prêmio de Incentivo ao Empreendedorismo Científico, sustenta. De que, quanto mais a prática científica precoce for incentivada, maiores serão as chances de revelar talentos e descobertas científicas de todas as dimensões.



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